"Sombras do passado"


(Edifício da ex-Cadeia e Tribunal da Relação do Porto)
Nikon D300 + Nikkor 50mm f/1.4
@ f/2.8, 1/640 seg., ISO 200, Medição pontual

CPF (Centro Português de Fotografia) - Exposição de câmaras fotográficas antigas





Continuando na saga das câmaras antigas de colecção hoje proponho uma visita ao Centro Português de Fotografia (instalado na antiga Cadeia da Relação do Porto) onde, além de várias exposições de reconhecidos fotógrafos (actualmente em exposição, entre outras, o percurso pelo Afeganistão de João Silva) está patente uma interessante exposição de câmaras fotográficas abrangendo modelos do séc. XIX até aos mais recentes tempos.
Esta exposição, que pode ser visitada gratuitamente... sim, algo pouco comum nos dias que correm... mas é verdade, desafia o visitante a descobrir a história através da evolução das máquinas fotográficas ao longo dos tempos.
Nem sempre as câmaras que julgamos, pela sua aparência, ser as mais antigas o são na realidade! Nesta mostra, encontram-se dispostas nos expositores por "tipos" e não por sequência cronológica. Isso faz com que estejam "misturadas" câmaras do mesmo tipo, por exemplo, 35mm, ou câmaras de "campo" mas de épocas diversas.
Uma das "falhas" que encontrei tem a ver com a reduzida informação acerca destas peças do passado. Na verdade, só um pequeno cartaz em cada expositor faz uma breve alusão ao tipo de máquinas que ali se podem ver.
Um dos aspectos, que penso serem importantes de referir, tem a ver com as especificações da câmara (qual o tipo de rolo ou tamanho de placa que utilizavam, qual o obturador, qual a objectiva, etc.), aspectos esses que não constam na grande maioria das câmaras expostas. Há somente a breve menção ao fabricante (marca), ao modelo e aos anos de construção do mesmo....
Bom, mas não querendo substituir uma atenta visita, vou mostrar algumas das máquinas que por lá podem ser vistas...


 Clique nas fotografias para ver em tamanho grande (700px) 


Ao lado:
Uma das maiores câmaras fotográficas do mundo! É realmente enorme! Nem imagino quanto possa pesar mas, a atender aos suportes e carris de ferro onde a mesma é operada...Trata-se duma das várias máquinas produzidas em Inglaterra pela firma "Hunter-Penrose, Ldº". Esta é a primeira peça, desta exposição, que podemos observar logo ao subir os primeiros lances de escadas e ainda antes de chegar ao 3º piso, sala onde se encontra concentrada a maior parte das câmaras de colecção.Esta é uma das poucas câmaras que não se encontra dentro de expositores de vidro. No entanto, está localizada num local de diminuta iluminação o que dificulta a intenção de fotografá-la...








À direita:
Uma outra câmara que, de igual modo, não escapou a uma fotografia foi a máquina fotográfica de estúdio (penso que) pertencente à firma Alvão & Cia. Ldª, em cujos laboratórios perdi de conta os rolos fotográficos que entreguei para revelação e impressão.... Ou seja, esta, além do valor como peça museológica relembrou-me velhos tempos da firma a que pertenceu!



Inteiramente dedicada às máquinas fotográficas construídas em madeira, a sala onde estão expostas as chamadas "câmaras de campo", apesar de pequena vale bem a visita! Hã!! Esqueci-me de referir que as câmaras (expostas em vitrinas) estão "espalhadas" por diversas salas de acordo com a sua tipologia. Assim, existe uma sala para as câmaras de "35mm"; uma para as câmaras "miniatura"; uma para as "Kodak"; uma para as Zeiss;  ...

Em baixo: 4 exemplos de "câmaras de campo" construídas entre os anos de 1845 a 1900





Como já devem ter reparado, as fotografias "não estão lá grande coisa" e não não fazem "jus" às lindíssimas peças expostas. Espero que não vos desmotive pois a ideia é este artigo servir de "aperitivo" e despertar o interesse por uma visita...
No CPF é permitido captar fotografias a todo o espaço, incluindo às câmaras expostas sem qualquer restrição. A única excepção, óbvia, reside na proibição de fotografar directamente (em plano único) as fotografias dos autores cujo trabalhos se encontram em exposição. 
Bom, acontece que como já referi, salvo raras excepções, designadamente no que toca a câmaras de maiores dimensões, todas as máquinas estão colocadas em vitrinas idênticas à da fotografia do início deste post.
Ora fotografar objectos por entre vidros é complicado... 

Já agora, para quem tiver ideias de fotografar nestas condições, aqui ficam algumas dicas para minorar o efeito dos indesejados reflexos nos vidros e conseguir as melhores fotografias possíveis:
  • Usar flash directo está completamente fora de questão!
  • A melhor maneira para fotografar nestas condições será escolher a objectiva mais luminosa que tiverem e seleccionar a maior abertura da mesma ou, no caso de ser uma objectiva muito luminosa (f/1.4 ou f/1.8) seleccionar um ou 2 f/stops acima da abertura máxima para não reduzir em demasia a profundidade de campo.
  • Outro "truque" bem simples consiste na correcta colocação da câmara em relação ao vidro. Dependendo da incidência de luz, escolher uma posição subtilmente obliqua em vez duma completamente frontal ajuda a evitar reflexos no vidro do expositor aumentando o contraste geral.
  • Devido à pouca luz ambiente, para não correr o risco de ficar com "fotos tremidas" não deve ser esquecido o princípio de distância focal = velocidade de obturação. Ou seja, caso seja usada, por exemplo, uma objectiva de 60mm a velocidade de obturação deverá ser de 1/60 seg. ou mais rápida.
  • Por último, neste caso concreto, uma vez que a iluminação artificial deste espaço é composta por lâmpadas tipo florescente (com uma temperatura de cor próxima da luz do dia) e é complementada por luz natural não existe grande necessidade de regulação de equilíbrio de brancos  

    Uma curiosidade que não resisti a fotografar: Esta fantástica fotografia a P&B (c.a. 1908), de Aurélio da Paz dos Reis, retratando a sua filha Hilda para os tradicionais Postais de Ano Novo que costumava enviar aos amigos e clientes, que se encontra num painel de tamanho gigante retro-iluminado.






    Mas ainda há mais para ver... que tal estes magníficos exemplos de câmaras de estúdio de grande formato?


                                                         Crow Graphic                                                              HTH - Super Techna Hengelo


    Claro que nestas coisas de coleccionismo existem sempre preferências.
    Pessoalmente, gosto imenso das câmaras construídas em madeira e, entre as várias que me prenderam a atenção, houve contudo duas que se destacaram:


    Uma delas (à esquerda) é uma curiosidade (pelos menos para mim). Nada mais, nada menos que uma antiga câmara de construção em madeira "Detective Steinheil Camera", datada de 1888, fabricada em Munique - Alemanha que, com pena minha, não deu para fotografar melhor...   







    ... e esta lindíssima e pouco vulgar "No. 3 Folding Pocket Kodak"!
    (Embora não esteja completamente identificada no C.P.F., penso que se trata do "Modelo B-2" destas câmaras da série 3A.... possuo uma do modelo anterior: (B) de 1903/4 e em breve reservarei um artigo para falar sobre a mesma)
    Esta última está patente na "sala das Kodak" e ressalta de todas as outras por dois motivos: Primeiro pelas suas enormes dimensões e depois pela cor avermelhada do grande fole!
    Estas câmaras da série "3A", tiveram sete diferentes modelos e foram produzidas pela Easteman Kodak Comapany nos USA, entre os anos de 1901 a 1914.
    A propósito foi com pena que no dia em que escrevo este artigo (6/02/2012) tenha sido anunciado o fim desta firma nos USA por não ter conseguido resistir e acompanhar a evolução das câmaras digitais... Curiosamente foi a primeira marca a tentar implementar a tecnologia digital a câmaras SLR de gama profissional. Após várias fases, iniciadas em 1990, viria a lançar em 1999 a "monstruosa" Kodak PRO DCS 620 baseada no corpo da então Nikon F5. Enfim, mas lá estou a divagar e a avançar demais no tempo...



    Depois de tudo bem visto, caso ainda haja tempo, existe ainda a oportunidade de visitar as exposições de fotografia que decorrem. Actualmente, como indiquei no início, “Afeganistão” de João Silva; “Habitar a Escuridão” de Marco Cruz; “Novos Valores da Fotografia Espanhola” - Vários autores e “Fotografias que falam por si” de Juantxu Rodríguez.

    Em baixo: uma pequena amostra dos espaços




    Provavelmente, esta será a derradeira oportunidade de ver no nosso país tamanha quantidade de máquinas fotográficas juntas... Pela parte que me toca, acho que vale a pena uma (ou mais...) visitas a esta exposição que se encontra aberta ao público durante quase todos os dias.
    É só confirmarem os diversos horários!

    Nikon D800 - 36,3 Mp!



    Aqui fica o vídeo de lançamento da nova Nikon D800.
    Anunciada ontem (6/2/2012), com um preço nos USA de $ 3.000,00, a nova Nikon D800 está vocacionada para os aficionados do detalhe.
    Na verdade, é a câmara de formato D-SLR (FX - 35mm) com maior resolução presentemente à venda no mercado! Penso que para muitos utilizadores estes 36,3 Mp (7360 x 4912 px) vão ser demais e vão tornar o processo de passagem e edição das imagens lento mas, não sendo necessário gerar ficheiros tão grandes, a câmara permite utilizar o modo DX (aproveitando uma compatibilidade de 100% com as objectivas daquele formato) e, mesmo assim, obter ficheiros de generosas dimensões de 4800 x 3200 px!
    Contrariamente à recente Nikon D4, esta D800 é uma câmara virada para a qualidade e não para a quantidade. Dito isto, as 4 fotos/segundo (no modo FX) estão longe do que câmaras bem mais baratas oferecem mas, atendendo ao enormíssimo tamanho dos ficheiros que a câmara produz, também nao seria de esperar mais.
    Contudo, mesmo em formato DX esse número sobe para 5 fotos/seg. ficando muito aquém do que consegue, por exemplo, uma Nikon D300.
    Quanto a armazenamento, esta Nikon D800 continua o curso das anteriores câmaras contendo 2 entradas de cartões: Uma para os CF e outra para SD; SDHC ou SDXC. Não existe a possibilidade de, tal como acontece na D4, utilizar o novo formato de cartões XQD.
    Tal com a sua antecessora, esta D800 continua a poder usar objectivas sem CPU nos modos de exposição A e M.
    Com objectivas da série G e AF-D a medição de luz conta agora com o sistema Color Matrix III.
    Quanto ao modo de vídeo a câmara grava no modo HD (1920x1080) a 30 fps ou 24 fps e em HD (1280x720) a 30 fps; 24 fps e 60 fps.
    Quanto ao resto o próprio vídeo promocional esclarece!

    Ihagee 50 Patent-Duplex Folding Plate (c. 1920s) ?


    Hoje, apresento-vos mais um pedaço de história...
    Esta é uma câmara que já me deu muito trabalho de pesquisa e infelizmente ainda não sei muito sobre ela... tão pouco consigo datá-la com rigor.
    Foi uma câmara que adquiri da zona da Catalunha (Espanha) e que além duma cuidada limpeza pouco mais precisou para se encontrar no estado actual.
    Trata-se de uma câmara de Grande-formato, com fole de dupla-extensão, designada de 1/4 de placa (ver aqui exemplos) que permite captar fotos com o tamanho de 9x12cm. Aliás é comum, também, apelidar este tipo de câmaras de "formato 9x12" precisamente por esse motivo.
    Um dos motivos responsáveis pela dificuldade em saber algo mais acerca desta câmara é o facto da mesma não ser muito vulgar. Existem uma série de modelos parecidos mas doutras marcas...
    A única inscrição que me permitiu a identificação da marca da câmara foram as siglas "Iha" (diminutivo de "IHAGEE"). Quanto ao modelo, presumo ser simplesmente "50" segundo também a inscrição...
    O obturador é um "Compur", considerado uma peça de relojoaria e um dos obturadores mais evoluídos e sofisticados da altura que permite fotografar a velocidades até 1/200 seg.

    A objectiva que equipa esta "Iha" era considerada uma das melhores e também uma das mais caras da altura: uma Carl Zeiss Tessar f/6.3! Constituídas por 4 lentes, as Carl Zeiss f/4.5 ou f/6.3 (como é o caso em concreto) eram, de facto, a melhor opção óptica disponível na época para este tipo de câmaras.

    Além da opção de visionar e enquadrar a área a fotografar pelo pequeno orifício e rectângulo em arame laterais a câmara possui um grande visor óptico denominado "Brilliante viewfinder" que se adapta, rodando, quer à captação de fotografias verticais, quer horizontais.
    O "nível de bolha" também se encontra integrado na parte frontal desta antiga câmara e é uma boa ajuda à focagem neste tipo de máquinas!

    Outra característica, pouco usual (em câmaras idênticas), reporta-se à capacidade de deslocar vertical e horizontalmente o fole da câmara através duns pequenos pernos localizados na base e no topo da parte frontal. Além de servir para mudar o enquadramento, sem necessidade de deslocar a câmara esta função de "Tilt & Shift" serve também para controlar os desfoques e a profundidade de campo, principalmente ao fotografar objectos próximos. (Embora, neste tipo de câmaras tal me pareça difícil de conseguir propositadamente uma vez que o visionamento directo - através do despolido - além de "rudimentar" não permitia aferir com qualquer rigor esse efeito!)

     Imagens: Para aumentar clicar nas fotografias e depois em F11) 



    Resta dizer que, apesar das várias horas "gastas" a pesquisar informação e de algumas trocas de opinião com coleccionadores, não foi possível ainda apurar garantidamente uma correcta identificação da marca e modelo desta câmara.... Em parte esse facto é bom porque, de certo modo, evoca o seu "estatuto de raridade".
    No entanto, se houver para aí algum especialista na matéria agradece-se ajuda na ID!

     Caraterísticas/Especificações da Ihagee 50 (?):
    Anos de produção: (?)
    Distância focal: 165mm
    Abertura Max: f/6.3 ~ f/45
    Objectiva: Carl Zeiss Tessar
    Obturador: Compur - 1 seg., 1/2 sec., 1/5 seg., 1/10 seg., 1/25 seg., 1/50 seg., 1/100 seg., 1/200 seg., T & B 
    Placas: 9 x 12 cm (?)